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IBP aponta dificuldades para operadoras cumprirem conteúdo local e defende revisão


A indústria brasileira de petróleo está prestes a realizar o seu maior evento, a Rio Oil & Gas, organizada pelo Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), em meio a uma situação bastante delicada e alguns impasses que dominam os pensamentos de muitos executivos. Pouquíssimas contratações novas têm sido feitas no mercado, com a Petrobrás evitando assinar novos contratos, e consequentemente expectativas abaixo do esperado nas carteiras de encomendas das empresas nacionais. De outro lado, o nível de endividamento da estatal chegou a índices altíssimos e ela corre contra o tempo para aumentar a produção, fazendo pressão como pode para conseguir algum aumento nos preços dos combustíveis. Nesse meio, as regras de conteúdo local acabam surgindo como possível vítima de um fogo cruzado e de algumas carências ainda não sanadas na indústria brasileira. As empresas de construção e montagem afirmam ser capazes de atender ao setor, mas as operadoras discordam em parte. O IBP, que representa as operadoras presentes no país, acredita que o nível de investimentos no Brasil cresceu muito além da capacidade industrial nacional e defende uma revisão nas regras de conteúdo local. O secretário executivo do instituto, Milton Costa Filho, que deu entrevista coletiva nesta terça-feira (2), afirmou que hoje as petroleiras precisam se preocupar com quesitos além da operação, fazendo análises econômicas sobre a viabilidade dos índices de conteúdo local nos projetos. Milton afirmou que o IBP reconhece a importância das políticas, enfatizando que elas ajudam o país a capturar riquezas geradas com a exploração do petróleo, mas ressaltou que o foco deve ser a competitividade. Ele disse que o instituto não entrará no detalhe dos índices percentuais ideais, mas considerou que ajustes serão necessários. O IBP está fazendo um estudo sobre o tema e pretende levar seus pleitos ao Ministério de Minas e Energia e à ANP.

Estamos vendo empresas sem encomendas, a Petrobrás deve assinar agora o contrato de Tartaruga Verde, com índices menores de conteúdo local do que os previstos pela ANP, então queria saber como o IBP vê o conteúdo local? Está bom assim ou defendem alguma mudança?

O IBP há muito tempo tem uma posição de que o conteúdo local é algo importante para o Brasil, importante para capturar a riqueza que a indústria de petróleo gera no país, mas o conteúdo local tem um limite, que é o limite da competitividade. Em muitos casos no Brasil estamos passando desse limite, o que acaba criando uma situação complicada para as empresas operadoras, que são compradoras de equipamentos e não fabricantes. Quem responde pelo conteúdo local são elas e isso acaba gerando uma situação complicada. Ao invés de se preocuparem com o negócio, a operação, elas têm que começar a fazer conta de análise econômica para ver o que significa comprar produtos mais caros ou pagar multa por não poder seguir aquilo. Elas têm que fazer todo um cálculo econômico para a operação.

Então o que a gente está realmente advogando aqui é o seguinte: é importante? É. O IBP apoia o conteúdo local. Mas ele tem um limite que é o limite da competitividade do projeto, da operação. Esse é o ponto. Acho que isso tem que ser revisto em algum momento.

Vocês já fizeram um balanço do que precisa ser revisado?

Não estamos fazendo um balanço pontual, de qual equipamento e etc. Mas basta você olhar para quando foi criado o conteúdo local. Na época, eram investidos US$ 6 bilhões na área de exploração e produção. Então a ideia do conteúdo local era criar uma ferramenta para ocupar a capacidade ociosa da indústria brasileira, comprando bens e serviços aqui. Esse foi o conceito inicial. Passados esses anos todos, hoje estamos investindo quase US$ 40 bilhões nessa área. Então multiplicamos por quase sete vezes os investimentos, mas o parque industrial brasileiro não foi multiplicado por sete.

Aí está claramente a necessidade de se fazer um ajuste no conteúdo local. Quando você tem uma superdemanda, obviamente se têm problemas de preço, de entrega, de qualidade, e isso tudo vai contra a competitividade. As indústrias começam a focar muito no mercado interno e com isso perdem competitividade. Esse ajuste vai ter que acontecer.

Em termos práticos, o IBP tem alguma proposta de ajuste nesse sentido?

Estamos trabalhando para isso. Temos alguns estudos nesse momento que vamos apresentar ao Ministério de Minas e Energia e à ANP.

No ano passado, o secretário executivo de Exploração e Produção do IBP, Antônio Guimarães, disse que vocês estavam desenvolvendo um documento sobre isso. Está pronto?

Estamos trabalhando nisso. Esse é um dos pontos que colocamos entre os itens importantes na agenda do IBP que será lançada na Rio Oil & Gas. Na feira daremos nosso posicionamento, mas o estudo está sendo finalizado. Há bastante tempo nós estamos trabalhando nele, com o foco na competitividade. Não temos sete vezes o número de fabricantes de válvulas, de árvores de natal, etc. Só na lógica já se vê que algum problema vai acontecer. Vai gerar multas e problemas sérios nas empresas operadoras.

Internamente, os associados do IBP estão avaliando, caso a caso, se vale mais a pena pagar as multas do que contratar aqui?

Isso é uma questão de cálculo. Cada empresa faz seu cálculo. No IBP não podemos entrar nesse detalhe, porque cada empresa tem sua realidade.

Mas elas estão fazendo essa conta?

Claro que estão fazendo. Se ela achar que vale a pena pagar uma multa para poder colocar sua operação mais rápido e produzir logo, tem que colocar no papel e ver o que é mais econômico. Em alguns casos, podem chegar à conclusão de que não vale a pena fazer nem o projeto, porque a multa pode ser tão grande que vai inviabilizá-lo.

Já teve algum caso assim?

Não. Estou falando na teoria. O IBP não entra no detalhe de seus associados. Cada empresa tem que fazer a sua análise técnica, comercial e econômica.

Fonte: Petro Notícias