Notícias

Crise na Petrobras abala o ânimo em polo do Rio


A descoberta do pré-sal produziu um clima de euforia e atraiu para o Brasil diversos centros de pesquisa e desenvolvimento globais. Mas as indefinições no setor, com a falta de leilões e a crise da Petrobras, esfriaram os ânimos das empresas que se instalaram no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Maurício Guedes, diretor do parque, admite que paira um desânimo entre as empresas. Mas ele observa que, para decidirem instalar centros de P&D no país, consideraram um horizonte de algumas décadas à frente e é natural que haja momentos de frustração.

"Embora o cenário esteja melhorando, estamos passando por um período de restrição de investimentos da Petrobras que afeta a todos. Por outro lado, a decisão estratégica de instalar um centro de P&D tem um foco de longo prazo, e essa expectativa não mudou. Além disso, embora todo parque bem-sucedido tenha de estar ligado a uma vocação, o Parque Tecnológico da UFRJ não envolve apenas óleo e gás. Temos empresas com interesses diversificados como Siemens, GE, EMC. Valourec e Tenaris, além da L'Oréal e a Ambev, que estão chegando", analisa Guedes.

A GE anunciou o investimento de R$ 500 milhões no parque em 2011 e mudou-se para o novo prédio em 1º de setembro. Alexandre Silva, líder da área de sistemas inteligentes da GE, destaca que a empresa tem três áreas-foco além de óleo e gás: sistemas de bioenergia (pesquisas com bagaço de cana, otimização de processos de produção do etanol, conversão de biomassa e locomotivas movidas a biocombustível); sistemas inteligentes (automação avançada, diagnósticos para energia elétrica, óleo e gás, transportes aéreos e transportes terrestres) e integração de sistemas (otimização para transportes e logística).

O centro já conta com 110 funcionários, incluindo 90 pesquisadores, e poderá receber até 400 profissionais. Hoje a distribuição de recursos entre as quatro áreas é equilibrada, mas a ideia é de que, no futuro, haja uma prevalência em óleo e gás. "Estava previsto um crescimento da equipe de óleo e gás, mas decidimos aguardar. Mas a nossa a abordagem é de médio e longo prazos. Temos certeza de que o cenário mudará, pois o recurso, que é o petróleo, existe e está lá para ser explorado", diz Silva.

Se há desânimo em óleo e gás, o clima é de otimismo em tecnologia da informação e comunicação (TIC) por conta das iniciativas do Plano TI Maior, do governo federal, que, entre outras ações, criou um programa em 2012 para a atração de centros globais de P&D. Segundo Virgílio Almeida, secretário de política de informática do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a meta era atrair, pelo menos, quatro centros globais de P&D em um período de quatro anos. O programa superou a meta. Há memorando de entendimentos com seis centros: Microsoft, Intel, Huawei, Baidu, EMC e SAP, que devem investir R$ 1 bilhão no país.

"Somos o sétimo maior mercado em TIC e o quinto em TI, um mercado que cresceu 10,8% em 2013 ante 5,9% da média mundial. Além do fato de o país ser uma plataforma de lançamento de produtos para a América Latina", diz Almeida. Ele acrescentou que novos centros poderão vir. Neste mês, ele esteve num road show nos EUA para visitas às principais empresas de internet como Twitter, Linkedin e Facebook. "A ideia foi mostrar que o mercado brasileiro é atraente, tem estabilidade institucional graças ao marco civil da internet. Foram visitas de apresentação do potencial do Brasil", diz Almeida.

Não há incentivos financeiros para a atração dos centros. Mas, associado ao programa, o governo criou um sistema de concessão de bolsas do CNPq para pesquisadores atuarem nos centros de P&D privados. O primeiro edital do programa recebeu 37 propostas, sendo 14 avaliadas pela banca e apenas cinco recomendadas por falta de recursos.

O total de apoio aprovado foi de R$ 6,2 milhões. Foram beneficiados os centros de P&D de IBM, Intel, ITV, CPqD e Freescale, com um valor máximo de R$ 2 milhões para cada empresa. A contrapartida às empresas foi de R$ 21,8 milhões. As bolsas serão cumpridas entre 2014 a 2017. Durante o seminário "Centros Globais de P&D em TIC", promovido pelo MCTI no Instituto Tércio Pacitti de Aplicações e Pesquisas Computacionais - NCE/UFRJ, o secretário anunciou um novo edital em 2015.

Ele ressalta que a atração de centros de P&D globais privados visa a enriquecer o ecossistema de inovação do país com a oportunidade de transformar pesquisa avançada em produtos e serviços.

Fonte: Valor Econômico