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Petrobras anuncia medidas, mas não convence mercado


A presidente da Petrobras, Graça Foster, passou cerca de três horas na segunda, 17/11, em reuniões com analistas e investidores e, posteriormente, com a imprensa, para explicar que a companhia tem adotado medidas robustas para prevenir, combater e punir atos de corrupção dentro da estatal. Alegando sigilo, porém, ela não detalhou as ações adotadas pela empresa e não convenceu o mercado do que, de fato, tem sido feito para corrigir as irregularidades internamente.

As ações da petroleira encerraram ontem o pregão da BM&FBovespa com o menor preço desde março, quando foi deflagrada a operação Lava-Jato, da Polícia Federal. As ações ON recuaram 5,08%, cotadas a R$ 12,13, e os papéis preferenciais fecharam o dia a R$ 12,60, com queda de 4,54%.

Entre as novas medidas, Graça destacou a proposta de criação de uma diretoria de compliance, para aprimorar mecanismos de controle e governança na empresa. Ela, porém, explicou que o cargo ainda depende de aval do conselho de administração.

Entre as providências já tomadas, Graça ressaltou a conclusão de sete comissões internas de apuração de indícios ou ocorrências de não conformidades em procedimentos da empresa. Ela, porém, afirmou que não poderia dar detalhes dos trabalhos das comissões.

"Todas essas comissões internas são absolutamente sigilosas. Os órgãos de controle já receberam [as informações] e também as mantêm sob o caráter de confidencialidade", disse. "Onde houver identificação de prejuízo, vamos buscar esse [ressarcimento do] prejuízo. Nosso jurídico já vem trabalhando em diversas frentes. Vamos buscar os prejuízos para que haja retorno ao caixa da companhia", completou.

A companhia também pagará cerca de R$ 18 milhões para os escritórios de advocacia independentes especializados em investigação (o brasileiro Trench, Rossi e Watanabe Advogados e o norte-americana Gibson, Dunn & Crutcher), para apurar supostos atos de corrupção na empresa.


Graça também admitiu que soube do pagamento de propina pela SBM Offshore a funcionários da petroleira após a conclusão de investigação interna da Petrobras, que não detectou inconformidades nos processos com a empresa. "Somos uma empresa que trabalha com processos, não temos outras ferramentas que a Controladoria Geral da União tem, que a Polícia Federal e o Ministério Público têm", afirmou.

A Petrobras enviou equipes para Holanda e Estados Unidos para investigar possíveis irregularidades nas licitações envolvendo a SBM, porém sem sucesso. "Até hoje não sabemos quem, nem quanto [pagou de propina]. Quem paga essa conta é a própria SBM, que fica fora das nossas licitações" disse Graça.

A SBM não participou das duas últimas grandes licitações da Petrobras afretamento de plataformas petrolíferas. "Não há a menor condição de ela [SBM] trabalhar conosco enquanto não tiver tudo esclarecido", disse Graça.

Já com relação às empresas denunciadas na última etapa da "Lava-Jato", o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, José Formigli, contou que pode haver modificações nos contratos com essas empresas, mas que eles não serão interrompidos. "Em eventuais revisões que possam ocorrer em contratos onde sejam identificadas práticas não adequadas de contratação, eles vão ser corrigidos, mas a priori eles não vão ser rompidos".

Questionada sobre a permanência do presidente licenciado da Transpetro, Sérgio Machado, no cargo, Graça disse que isso do próprio executivo. "Ele decidiu licenciar-se por 31 dias. Entendo que, 31 dias depois, ele deverá retornar a Transpetro. Caso esse trabalho de investigação na Transpetro não esteja concluído, ele vai tomar a decisão que entender que é a melhor para a Transpetro", disse ela.

Fonte: Valor Econômico