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Transpetro está paralisada desde seu envolvimento na Lava-Jato


A Transpetro, a subsidiária de logística da Petrobras, está virtualmente paralisada. A empresa permanece nessa situação desde que o ex-presidente, Sérgio Machado, foi envolvido nas denúncias de desvios de recursos da Petrobras investigadas na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.

Desde novembro, a Transpetro tem no comando um executivo provisório, o engenheiro Cláudio Campos, funcionário da Petrobras desde 1985. Com a renúncia da diretoria da Petrobras, em fevereiro deste ano, o conselho de administração da Transpetro ficou esvaziado. Das seis cadeiras do conselho da subsidiária, quatro, incluindo a do presidente, são ocupadas por executivos da Petrobras. Nas duas últimas reuniões do conselho, em janeiro e fevereiro, os conselheiros da Transpetro não tiveram assuntos importantes para deliberar.

"A Transpetro, assim como a Petrobras, está em compasso de espera", disse fonte próxima da empresa. A Transpetro administra dutos e terminais marítimos e opera uma frota de navios que transporta petróleo e derivados. Hoje, no Rio, será realizada reunião do conselho de administração da Transpetro com uma pauta que inclui a aprovação do orçamento de 2015 e do relatório da administração de 2014 e a aprovação do programa de remuneração variável para a diretoria (pagamento de 2,8 a 6 seis salários dependendo do cumprimento de metas), entre outros temas. Ontem havia incerteza sobre quem participaria da reunião representando a Petrobras.

Presidente interino da subsidiária, Claudio Campos, tem poucas chances de permanecer no cargo, dizem fontes

Desde que Graça Foster, a ex-presidente da Petrobras, e outros diretores deixaram o comando da estatal, no começo de fevereiro, parte do conselho de administração da Transpetro ficou vago. Dos seis conselheiros da subsidiária, quatro são da Petrobras, um representa o Ministério do Planejamento e outro, os trabalhadores. É tradição que o presidente da Petrobras acumule a presidência do conselho da Transpetro. Graça Foster presidia o conselho da subsidiária e, em tese, o novo presidente do conselho da Transpetro deve ser Aldemir Bendine, o presidente da Petrobras. Mas no mercado há informações de que Bendine poderia nomear alguém da diretoria da Petrobras para representá-lo. Procurada, a Petrobras não respondeu.

À espera de definições, a Transpetro vive também a expectativa sobre a sucessão definitiva de Sérgio Machado. Ele se licenciou do cargo em novembro depois de ter o nome envolvido na Lava-Jato pelo ex-diretor de abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa. Costa afirmou ter recebido R$ 500 mil de Machado. Após renovar a licença sucessivas vezes, Machado terminou renunciando ao cargo, em fevereiro, um dia depois de Graça Foster ter anunciado a saída da presidência.

O atual presidente da Transpetro, Claudio Campos, ocupa o cargo desde a primeira licença de Machado, primeiro como presidente em exercício e depois como interino. No mercado, a avaliação é de que ele tem poucas chances de permanecer no cargo. Haveria dois grupos se articulando internamente dentro da Transpetro para tentar nomear o novo presidente da companhia, dizem fontes. Um dos grupos, mais ligado à estatal, seria encabeçado por Paulo Penchiná, diretor de terminais e oleodutos da Transpetro. O outro grupo, representado por Nilson Ferreira Nunes Filho, diretor de transporte marítimo da Transpetro, e pelo próprio Claudio Campos, seria mais próximo de Machado e do PMDB, dizem as fontes. Procurada, a Transpetro disse que não iria se manifestar.

Em depoimentos adicionais à delação premiada da Lava-Jato, Paulo Roberto Costa reafirmou que a permanência de Machado na presidência da Transpetro, empresa que dirigiu por onze anos e quatro meses, teve intervenção direta do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, conforme noticiou ontem o Valor. No setor marítimo, Machado sempre foi identificado como afilhado político de Calheiros. Mesmo afastado, Machado ainda teria influência sobre a Transpetro, assim como o PMDB, dizem as fontes. Procurado, Machado não retornou a ligação. A decisão sobre a indicação do novo presidente da Transpetro caberá ao conselho de administração da companhia, onde a Petrobras tem maioria. Essa decisão, porém, não deve ser tomada hoje na reunião do conselho, disse fonte.

Na pauta da reunião do conselho de administração da Transpetro hoje, também está prevista a avaliação sobre a venda de três navios antigos da empresa que não têm casco duplo e, portanto, não cumprem exigências internacionais. A venda de navios, que pode se estender para um número muito além dessas três embarcações, preocupa o Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar). O presidente do Sindmar, Severino Almeida, disse ter uma avaliação pessoal de que até 2017 mais dez navios da Transpetro poderão ser retirados da frota por ter idade avançada.

Em tese, disse Almeida, parte dos navios que forem aposentados poderão ser repostos por embarcações do Programa de Renovação da Frota (Promef). Lançado em 2004, o Promef teve várias versões e encomendou, no total, a construção de 49 navios petroleiros e 20 comboios hidroviários a estaleiros nacionais em um investimento estimado em R$ 11,2 bilhões. No começo do ano passado, quando as denúncias da Lava-Jato ainda não eram conhecidas, Machado chegou a falar no Promef 3, para construir mais navios. No momento, porém, há dúvidas no mercado sobre a continuidade do programa.

Hoje, segundo a Transpetro, há oito navios do Promef em operação e outros 15 em diferentes fases de construção, sendo que sete deles estão previstos para serem entregues este ano. No mercado, a avaliação é de que a empresa poderá decidir restringir o programa somente aos contratos que estão em eficácia e não contratar novas embarcações. "O Promef acabou", disse uma fonte. Oficialmente, a Transpetro afirma que não há decisão tomada sobre o assunto.

Ainda sobre a venda potencial de navios, o número final pode chegar a 23 unidades avaliadas, segundo as coberturas de seguro, em US$ 270 milhões, segundo informações do Sindmar. Almeida entende que a venda, se confirmada, ficaria bem aquém desse valor. O desinvestimento de parte da frota daria lugar a um maior número de afretamentos (alugueis) de embarcações estrangeiras pela Transpetro. A venda de navios da Transpetro está inserida na política de desinvestimentos da Petrobras.

Fonte: Valor Econômico