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Nova Petrobras ja se financia no mercado


Tirar a Petrobras do atoleiro não é tarefa nada fácil, dado o tamanho da encrenca em que a estatal se meteu, nos últimos anos, graças ao gigantesco esquema de corrupção que se instalou na companhia; às intervenções desastradas do governo em sua gestão e no marco regulatório do petróleo; às ineficiências inescapáveis de uma empresa estatal; e à forte queda do preço do petróleo. A boa notícia é que, recentemente, foram dados na direção correta os primeiros passos para tirar a estatal do pântano.

A primeira decisão acertada foi mudar a diretoria da companhia. A chegada de Aldemir Bendine ao comando, em meio a um ambiente de grande ceticismo, rendeu frutos. Contrariando todo o pessimismo, Bendine conseguiu, em menos de três meses, restabelecer minimamente a confiança dos investidores na estatal.

Desde o anúncio da nomeação de Bendine, no dia 5 de fevereiro, as ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobras tiveram valorização de 64,81%. No caso das preferenciais, a valorização foi menor, mas igualmente expressiva: 48,43% (ver gráfico abaixo). As cotações ainda estão bem abaixo do pico histórico - respectivamente, R$ 13,63 e R$ 12,78, face a R$ 53,07 e R$ 42,68 (estas, em 21 de maio de 2008).

Investidor começa a confiar na nova diretoria da estatal

A diferença entre o avanço das ordinárias e das preferenciais reflete a percepção do mercado de que, neste momento, a direção da companhia vai privilegiar a recomposição do fluxo de caixa, deixando em segundo plano, por exemplo, o pagamento de dividendos. Foi o que ocorreu. Mas, por outro lado, à medida que a estatal der sinais concretos de que recobrou a capacidade de se financiar no mercado, que a dívida tende a diminuir no médio e longo prazos e que os lucros podem voltar, a confiança dos preferencialistas aumentará.

Ontem, o longo depoimento de Bendine à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado foi um sinal nessa direção. No fim do dia, a cotação das ações preferenciais subiu 1,58%, enquanto a das ordinárias ficou estável.

Bendine e seu braço direito - Ivan Monteiro, diretor financeiro, também egresso do comando do Banco do Brasil (BB) - priorizam, na primeira fase de sua gestão, a "financiabilidade". "O mercado [está preocupado com o tamanho da dívida] e eu também", disse Bendine a esta coluna. "Mas, antes da questão do endividamento, vem a questão do fluxo de caixa. A coisa mais horrível é você não pagar o que deve."

Está nesse contexto a série de operações realizadas nas últimas semanas para reforçar o caixa. O conselho de administração autorizou a diretoria a levantar no mercado até o fim do ano US$ 19,1 bilhões. Metade desse valor já foi equacionada, embora nem tudo tenha sido efetivamente captado porque uma parcela expressiva dos recursos está em forma de crédito stand-by. "É como um cheque especial", comparou Bendine.

A nova diretoria tem feito um enorme esforço para reforçar o caixa e alongar o perfil da dívida. O presidente da Petrobras não confirma, mas esta coluna apurou que a estatal fechou, no BB, operação de nota de crédito de exportação para a BR Distribuidora. A BR possuía um contrato de mútuo com a própria Petrobras a um custo elevado. Agora, ela recebeu o crédito do BB, a um custo financeiro bem menor, e encerrou o contrato de mútuo com a holding, que, por sua vez, recebeu os recursos.

"Foi maravilhoso porque ingressou um dinheiro aqui, um valor a receber que a holding tinha, um mútuo com a BR, e melhorou muito na BR, que tinha um custo de carregamento dessa dívida altíssimo com a Petrobras", explicou um técnico da empresa.

Em outra operação, esta com o banco britânico Standard Chartered, a estatal realizou uma operação conhecida como "sale and leaseback" ("venda e arrende um ativo de volta", em tradução livre). A operação resultou numa linha de crédito de US$ 3 bilhões com prazo de 10 anos e custo baixo. "Em primeiro lugar, tínhamos que tratar da 'financiabilidade'. Isso a gente conseguiu fazer até antes de ter divulgado os balanços", observou Bendine. "Agora, com o balanço auditado, abriu-se o mundo do mercado de capitais de novo."

A Petrobras deve uma fábula: R$ 282,1 bilhões em 31 de dezembro de 2014. Muito provavelmente, o valor cresceu desde então por causa das recentes operações de endividamento. No fim de 2014, o índice de alavancagem - a relação entre dívida líquida e fluxo de caixa (Ebtida, sigla em inglês de lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) - era de 4,77 vezes.

O plano de voo para melhorar esse indicador está claro. Para evitar que a dívida estrangule a capacidade da empresa de investir, a Petrobras, muito mais do que se desfazer de ativos, vai prospectar parcerias e negócios que rendam um bom dinheiro. À medida que isso for feito com sucesso - e o histórico de Bendine e Monteiro no BB é bastante positivo (a BB Seguridade é o melhor exemplo) -, a dívida deverá diminuir, levando os investidores a acreditarem que ela deixará de ser administrável para deixar de ser um problema.

"São processos que vamos construir em cima de ativos que temos aqui, negócios que não estão prospectados, não estão 'descobertos', para monetizar", contou Bendine. "Não vou mencioná-los porque, senão, deprecio o meu negócio, mas tem uma série de ativos em que a gente consegue colocar condições sinérgicas, aumentando a possibilidade de ganhos e, com isso, você entra com recursos extraordinários dentro da companhia e isso, lógico, baixa a dívida."

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Fonte: Valor Econômico