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Companhias buscam alternativas aos cortes no Comperj


Há duas semanas, Ronaldo Luiz Lepsch, diretor técnico da Biofibra, empresa especializada em soluções de saneamento, iniciou a busca de saídas para vencer as dificuldades que enfrenta como prestador de serviços na construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Lepsch foi ao Centro do Pesquisa da Petrobras (Cenpes) levantar as especificações do sistema de tratamento de efluentes para a sede administrativa do Complexo e tentar que a própria Biofibra fique diretamente responsável pelo serviço ao invés de atuar como subcontratada.

O Comperj nasceu como um polo gás-químico em 2007, virou uma refinaria em 2010 e agora tem garantida apenas a operação de uma unidade de tratamento de gás. Ele tem, ainda, o centro administrativo, que ironicamente foi apelidado em forma de chacota como "Empreiteirópolis" (cidade das empreiteiras) antes mesmo do projeto virar um dos casos mais emblemáticos investigados na operação Lava-Jato.

Com as empreiteiras envolvidas nas denúncias e impedidas de fechar novos contratos com a Petrobras, restou à Biofibra tentar vender diretamente para a estatal. Para a empresa, que faturou R$ 12 milhões em 2014, o contrato com a Odebrecht no Complexo representava um faturamento de R$ 5 milhões/ano.

Mas o contrato acabou, não pode ser renovado porque a Odebrecht e outras empreiteiras estão em uma lista negra da estatal, o que atingiu indiretamente a Biofibra e outros fornecedores. "Temos grandes clientes no Brasil inteiro. Já trabalhamos para a Petrobras. Não há porque não sermos contratados diretamente", diz o diretor comercial da Biofibra, Humberto Costa.

Iniciativas como a da Biofibra são hoje a maior esperança da região. A tese de políticos e empresários locais é que a contratação direta, sem o chamado sobrepreço apontado nas investigações da Lava-Jato, torna o investimento muito mais barato. Alegam também que o projeto é estratégico. "O Brasil importa derivados. Não há justificativa para paralisar a obra de uma refinaria que está 80% pronta", diz o prefeito de Itaboraí, Helil Cardozo (PMDB).

Para a gerente de petróleo, gás e indústria naval da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Karine Fragoso, a situação não é bem essa. "O cenário mundial é de sobra de derivados, os preços estão em queda. O momento não é bom, mas se conseguirem pelo menos a refinaria já será bom para a região", diz.

Mas lembra que sempre houve dúvidas sobre a capacidade de Itaboraí capturar todos os investimentos. "Já havia uma cadeia de suprimentos formada ao redor da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no município do mesmo nome, e a quase vizinha Itaboraí continuava como base rural."

De acordo com o Plano de negócios 2015-2019 da Petrobras, apenas as obras da central de utilidades do Comperj e das unidades de infraestrutura que irão suportar a partida da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) estão em andamento. O projeto da refinaria depende de sócio para ser concluído e, de acordo com declarações recentes do presidente da estatal, Almir Bendine, necessita de mais US$ 4 bilhões.

"Levamos a proposta (de substituir as empreiteiras pelos subcontratados) ao presidente da Petrobras. Ele pareceu gostar, mas não incluiu no plano de negócios", reclama o secretário de desenvolvimento e de integração com o Comperj da prefeitura de Itaboraí, Luiz Fernando Guimarães.

Sem definição, Guimarães se esforça para encontrar outras soluções para a região que se preparou para receber um grande empreendimento que acabou reduzido. Com os impasses, a arrecadação de Imposto sobre Serviços (ISS) caiu, de dezembro para março, de R$ 23 milhões para R$ 8 milhões. No centro do município, onde o aluguel de um dois quartos chegou a custar R$ 3,5 mil, agora é possível alugar o imóvel pagando apenas o condomínio e o imposto predial. A taxa de desemprego passou de 10% e a alternativa para muitos foi o trabalho de ambulante.

Guimarães instalou a secretaria e os principais órgãos do município ligados à atividade econômica em um andar de um complexo de três edifícios comerciais, onde há hotel e heliporto. A área fica na principal avenida da cidade, a Av. 22 de Maio. Não é o único complexo com esse perfil na avenida, mas a prefeitura, por enquanto, é a única inquilina das novas unidades. Mas a secretaria não paga aluguel.

"Vou trazer Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas], Firjan, criar uma sala do empreendedor, oferecer cursos. Tudo o que é de graça, vou atrás", diz o secretário.

Entre as apostas do município está a revitalização da Avenida 22 de Maio, com R$ 186 milhões financiados pelo governo do Estado. As obras vão começar este ano, por trechos, com previsão de conclusão em quatro anos. Terão o desafio de conciliar os novos complexos empresariais, shoppings e supermercados com áreas de pasto e olarias, que subsistem na cidade, e na mesma avenida.

Entretanto, projetos como esses não equilibram as dificuldades do município frente à a nova realidade do Comperj. Nas obras, 23 mil trabalhadores chegaram a ser alocados. Agora, a Petrobras informa ter 11.900 trabalhadores, em 23 contratos de construção e montagem. Mas a prefeitura e o governo estadual estimam em cerca de 6 mil. De qualquer forma, a tendência é de queda, já que a maioria dos contratos estão acabando e há muitas restrições a renovações.

Em conversa com os prefeitos, Bendine disse haver dois grupos estrangeiros interessados no projeto da refinaria. A busca por um sócio, porém, é antiga. Em 2008, o fato de não ter encontrado um parceiro ajudou a estatal a adiar a ambiciosa ideia de fazer um complexo gás-químico. "A Petrobras controla o mercado de gás e o governo interfere diretamente no preço dos derivados. Tanto a petroquímica quanto o refino são negócios arriscados para o setor privado", diz o executivo de uma multinacional que, no Brasil, atua na exploração e produção de petróleo.

Sem perspectiva, a prefeitura está regularizando a titularidade de áreas nos distritos industriais, que poderão ser usadas por empresas que ali se instalaram como garantias em financiamentos. A expectativa é de que outras sigam a Biofibra e invistam. "Estamos tentando mostrar que não podemos desistir", diz o diretor da Biofibra, citando o esforço para demover um empresário da ideia de vender sua empresa de catalisadores.

A Weber, que inaugurou no município uma fábrica desmontável, diz que continua firme na região. "Da ponte (Rio-Niterói) para baixo, Itaboraí atende. Da ponte para cima, a produção é a da fábrica de [município de] Queimados", diz o diretor de marketing, Asier Amorena.

A divisão de áreas adotada pela Weber aponta outra fragilidade de Itaboraí: faltam 25 quilômetros para que a rodovia batizada de Arco Metropolitano, inaugurado no ano passado, chegue ao município, permitindo sua ligação às principais estadas de saída do Rio: a Rodovia Presidente Dutra à BR 040 (Rio/Brasília). O trecho do Arco entre Itaguaí e a BR 040, em Magé, responsabilidade do governo do Rio ficou pronto, mas a parte sob responsabilidade da União, continua sem previsão.

Apesar do problema viário, o secretário de desenvolvimento aposta no potencial do município como polo logístico. "Não estou chorando pelo Comperj. Estou desesperado pelo Arco Metropolitano."

Fonte: Valor Econômico