Notícias

Crise da Petrobras reduz demanda por trabalhadores marítimos


Em janeiro, o oficial de marinha mercante Caio Puejo recebeu o fatídico telefonema: depois de pouco mais de um ano trabalhando para uma companhia de navegação, seria demitido. A empresa explicou que 3 das 6 embarcações de apoio a plataformas de petróleo que tinha no país ficaram sem contrato e, portanto, precisaria reduzir o quadro de empregados.

Com 27 anos e formado em 2013, Puejo representa um contingente de trabalhadores que aumentou nos últimos anos graças a um esforço da Marinha para suprir o deficit de oficiais, um gargalo no início da década.

A retração na indústria do petróleo, porém, provocou uma queda de 11% no estoque de empregos em 2015 no segmento de navegação de apoio no Estado do Rio, onde está a maior parte das empresas desse tipo de atividade.

Com os cortes nos investimentos das petroleiras, em especial a Petrobras, 90 embarcações de apoio deixaram o país em 2015. São navios que prestam serviços para as plataformas de produção, desde o transporte de mantimentos ao lançamento de âncoras e equipamentos submarinos.

O número de formandos no segmento praticamente triplicou entre 2006 e 2013, passando de 365 para 1.058, segundo dados da Diretoria de Portos e Costas (DPC), responsável pelas escolas de formação de oficiais no Brasil.

O crescimento da oferta respondeu a apelos das empresas de navegação, que disputavam os novos profissionais ainda na escola com promessas de altos salários. Pela lei, embarcações de bandeira brasileira têm que ser tripuladas por brasileiros. Já as estrangeiras precisam ter dois terços de brasileiros se ficarem mais de 90 dias no país.

"Entrei na escola com o mercado bombando e me formei quando estava descendo a curva", diz Puejo, que se formou no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga), no Rio, a maior escola de formação de marítimos do país. "Da minha turma, pouca gente conseguiu embarcar como oficial até hoje. Só conseguiram fazer a praticagem [espécie de estágio obrigatório para marítimos]."

A turma de 2014 já teve menos sorte. Mais de um ano depois da formatura, pelo menos 70 alunos de náutica ainda esperam vaga para o estágio. A de 2015 terá que entrar no fim da fila.

"Não sabemos como o mercado vai conseguir absorver esses profissionais que se formam em 2016, 2017, 2018. Não podemos chegar na escola e dizer: desculpe, mas você deveria buscar outra profissão", diz o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais de Marinha Mercante (Sindmar), Severino Almeida.

A Marinha informou que poderá rever o número de vagas nas escolas caso a demanda por profissionais continue baixa.

A retração no setor afeta também outras categorias de tripulantes. "Penso até em sair do Brasil, se possível. Não posso ficar esperando", diz o taifeiro (profissional que trabalha com alimentação e hotelaria), Ronald Machado. Com 54 anos, ele está desempregado desde setembro, quando a empresa em que trabalhava dispensou cerca de 400 pessoas.

Segundo Almeida, já é comum ver profissionais mais qualificados que há dois anos recebiam salários de R$ 22 mil a R$ 25 mil mensais aceitando funções inferiores com salário de R$ 12 mil.

À crise do setor de petróleo, soma-se a indefinição com relação aos navios do programa de renovação de frota da Transpetro, subsidiária da Petrobras, que previa ter 49 novas embarcações até 2016. Até agora, apenas 12 foram entregues e não há garantia de que todas as outras sairão do papel.

Fonte: Valor - Folha Press