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Novo plano da Petrobras deve trazer revisão geral de projetos


O novo presidente da Petrobras, Pedro Parente, convocou para o início de julho uma reunião com os principais diretores para começar a traçar o novo plano estratégico da empresa. Enquanto a alta cúpula da petroleira se debruça sobre a revisão das prioridades da companhia, o mercado já aposta em um novo corte nos investimentos e, consequentemente, na curva de produção da estatal.

Embora os números do novo plano de negócios ainda estejam sob revisão pela diretoria, já é possível antecipar que a provável redução dos aportes da estatal passa pela postergação de uma série de investimentos que vão desde a área de produção no pré-sal, foco da empresa, aos setores de exploração, refino e gás natural.

O Valor apurou que projetos como as unidades de processamento de gás do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), campos do pré-sal como Lula Oeste e Atapu Norte e a exploração de áreas nas bacias de Santos, Espírito Santo e Sergipe são alguns dos investimentos adiados desde a divulgação do plano 2015-2019 da estatal, no ano passado.

Campos como Lula Oeste e Atapu Norte devem sair do horizonte do novo plano de negócios e ficar para depois de 2020

Com a sinalização de Parente de que o equacionamento da dívida será o objetivo "urgente e fundamental" da Petrobras, o mercado vê espaço para novos cortes nos investimentos da companhia - que em janeiro já havia anunciado um corte de US$ 32 bilhões no atual plano, em boa parte atribuído à otimização do portfólio de projetos. A expectativa é que o novo plano da Petrobras apresente ao mercado a "cara Pedro Parente".

O HSBC espera que, para preservar caixa, a estatal deve reduzir ainda mais seus aportes nos próximos anos, para patamares de US$ 16 bilhões por ano entre 2016 e 2017 - volume 21% abaixo da média anual de US$ 19,6 bilhões prevista no atual plano de negócios da companhia, de US$ 98,4 bilhões entre 2015 e 2019.

A Raymond James, por sua vez, acredita que a Petrobras, diante da tendência de redução de seus investimentos, precisa ajustar também sua atual meta de produção - de 2,7 milhões de barris diários em 2020. A corretora destaca que o ritmo de crescimento projetado pela petroleira está acima do histórico recente da companhia. E estima que a produção pode chegar a 2,3 milhões de barris/dia, assumindo um aumento de 2% em 2017 e de 3% ao ano a partir de 2018 - ritmo maior que o crescimento médio de 1,2% ao ano, entre 2010 e 2015.

A revisão da curva de produção torna-se ainda mais provável quando considerado o adiamento de alguns importantes projetos no pré-sal. Campos como Lula Oeste (previsto para 2020 no plano 2015-2019) e Atapu Norte (projetado para 2018), por exemplo, devem sair do horizonte do novo plano de negócios e ficar para depois de 2020, segundo informações da Galp, uma das principais sócias da Petrobras no pré-sal. Ainda de acordo com a portuguesa, Sépia, também na Bacia de Santos, deve ser adiado em um ano, para 2020.

Já na área de exploração, a Petrobras vem conseguindo obter junto à Agência Nacional de Petróleo (ANP) a extensão de prazos para conclusão de uma série de compromissos exploratórios. Cada vez mais concentrada em produção, a estatal já conseguiu o aval do órgão regulador para postergar a declaração de comercialidade de projetos como Júpiter (BM-S-24), no pré-sal da Bacia de Santos; do Parque dos Doces, na Bacia do Espírito Santo; e de seis descobertas de óleo e gás na costa de Sergipe (Barra, Poço Verde, Farfan, Moita Bonita, Cumbe e Muriú).

Os prazos para declaração de comercialidade - etapa que marca o fim da exploração e o início do desenvolvimento da produção de uma descoberta - desses projetos foram todos postergados para o final da década (no caso de Júpiter, para 2021). Na prática, a Petrobras ganha uma certa liberdade para realizar só daqui a três ou quatro anos os investimentos obrigatórios inicialmente previstos para o curto prazo.

Na área de refino e gás natural, a companhia também decidiu adiar a conclusão das unidades de processamento do Comperj, que processará o gás do pré-sal, e adiou o projeto de 2017 para 2019. Isso significa dizer que a companhia ganha dois anos de fôlego e pode jogar um pouco mais para frente os investimentos estimados entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões no projeto Rota 3 - que integra a construção da UPGN do Comperj, o gasoduto de escoamento do gás do pré-sal até a costa e ajustes no Terminal de Cabiúnas, em Macaé.

Já o primeiro trem da refinaria do Comperj, que já tinha sido retirado do plano atual, está previsto para 2023 e segue fora do programa de investimentos até que a empresa consiga um sócio privado para conclusão do empreendimento, que já tem 86% de suas obras executadas.

Fonte: Valor Econômico