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Sete Brasil ainda precisa de mais US$ 5 bilhões para sondas


RIO - Após gastar mais de R$ 20 bilhões para a construção de parte das sondas de exploração do pré-sal, a Sete Brasil ainda precisa de mais de US$ 5 bilhões — cerca de R$ 15,8 bilhões — para concluir 12 dessas unidades. Essa é a principal informação do plano de recuperação judicial da companhia, protocolado na sexta-feira, 12/08, na 3ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). A Sete Brasil tem pressa e muitos desafios: com dívidas de R$ 19,3 bilhões, ela precisa assinar com a Petrobras o contrato de aluguel dessas embarcações em 120 dias, quando deve ocorrer a Assembleia Geral de Credores. Analistas do setor, no entanto, temem que a empresa não consiga resolver seus problemas.

Nas próximas semanas, deve haver reuniões com a estatal, por meio de um mediador, para se chegar a um acordo. Nos últimos dois anos, a Petrobras vem protelando uma decisão sobre o assunto, pedindo, nos bastidores, uma redução drástica do número de sondas que serão necessárias para explorar o pré-sal. O projeto original previa 28 unidades, e 17 delas já tiveram suas obras iniciadas. Outro ponto de impasse é relativo ao custo diário de aluguel das embarcações. Segundo fontes, a Petrobras tenta reduzir o valor acordado inicialmente.

NOVO INVESTIDOR TERÁ PREFERÊNCIA

Para Luiz Eduardo Carneiro, presidente da Sete Brasil, está sendo montado um ambiente de mediação com a Petrobras a fim de “achar uma saída para o projeto”.

— É essencial que a Petrobras reafirme seu contrato com a Sete Brasil para a companhia obter até US$ 5 bilhões com investidores para concluir as sondas. Quem topar investir esses recursos terá prioridade para receber esse valor quando a companhia começar a gerar caixa, com o afretamento das sondas à Petrobras — disse Carneiro.

Segundo Eduardo Sampaio, sócio-diretor da Alvarez & Marsal, a Sete está conversando com todos os estaleiros envolvidos no projeto para saber se eles têm interesse em concluir as obras por conta própria e receber depois, quando a companhia começar a gerar recursos. Há conversas também com outros investidores no exterior.

— A ideia é que os estaleiros continuem as obras sem receber. Esse serviço só seria pago lá na frente. Isso empurra a necessidade de investimento da Sete. Mas ninguém vai formalizar nada antes de a Petrobras assinar os contratos de afretamento com a Sete Brasil. No plano que montamos, estamos prevendo de oito a 12 sondas. Esse é o número que vai dar mais retorno aos acionistas. Mas tudo vai depender do que a Petrobras vai querer. Ela pode vir com uma proposta diferente — disse Sampaio.

Na prática, a Petrobras pode querer apenas uma sonda, ou qualquer outra quantidade. Procurada, a estatal não quis comentar o assunto. Segundo fontes, a Sete tenta convencer os estaleiros Jurong e Keppel Fels, ambos de Cingapura, a financiarem o projeto. A empresa não confirma.

ANALISTAS TEMEM FALÊNCIA

Se a Sete conseguir novos investidores, os atuais credores — como os bancos, com os quais a empresa tem dívidas de R$ 10,1 bilhões — só vão receber após serem pagos os investidores que concordarem em injetar esses US$ 5 bilhões. Com isso, os bancos só começariam a receber após 2026.

Analistas do setor não veem avanços no plano de recuperação judicial da Sete. Para eles, a situação da empresa está se encaminhando para um desfecho de insolvência, já que o principal problema ainda não foi resolvido.

— Não há indícios de que a Petrobras, que está cortando custos e vendendo áreas do pré-sal, vai assinar com a Sete. A Petrobras procura preços menores, e ela consegue isso com as sondas disponíveis hoje no mercado internacional — ressaltou um analista.

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Das 28 sondas previstas inicialmente, as primeiras unidades tinham estimativa de entrega entre o fim de 2015 e o início de 2016. No entanto, a sonda mais adiantada hoje é a Urca, na Brasfels (do Keppel Fels), com 89,96% das obras concluídas. A sonda Arpoador, do Jurong Aracruz, está 84,76% pronta.

— Mas, dependendo de quem for o novo investidor, as sondas mais adiantadas podem ser finalizadas em outro estaleiro — completou Sampaio.

Enquanto isso, o processo de recuperação judicial da Sete continua sem um administrador judicial, já que a Deloitte foi afastada da função pelo TJ-RJ.

Fonte: O Globo