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Tenaris direciona quase 80% da produção brasileira para exportação até o fim do ano


A Tenaris vem investindo fortemente no Brasil nos últimos anos, tendo aplicado cerca de US$ 350 milhões no País desde 2012, e agora consolida um segundo momento de sua estrutura nacional, direcionando quase 80% de sua produção local para a exportação até o final de 2016. A situação do mercado brasileiro certamente é um fator relevante para este quadro, já que as encomendas internas caíram fortemente para toda a indústria desde que a crise econômica avançou, mas o diretor comercial da Tenaris, Idarilho Nascimento, não se atém a este cenário e ressalta que a companhia conseguiu atingir um patamar de extrema competitividade internacional. Um dos destaques deste processo de amadurecimento no Brasil é o desenvolvimento de novos produtos a partir do centro de pesquisas inaugurado em 2014 no Rio de Janeiro, que atua em parceria com os outros quatro centros de pesquisa da empresa espalhados pelo mundo, e que já rendeu frutos, como o conector BlueDock. “Começamos a produzir a partir do Brasil. É a única planta da empresa que produz esse conector e atendemos não só o mercado local, mas também o internacional”, afirma Idarilho, contando que já tem contratos de exportação do produto para a Total e a Conoco, além de estar fornecendo para a instalação no campo de Libra, no pré-sal.

Visto como um exemplo positivo surgido na esteira da política de conteúdo local, o caso da Tenaris é avaliado pelo executivo como um esforço de disciplina e aplicação da empresa, mas ele reconhece que as exigências foram um fator importante para esse avanço no mercado brasileiro, e ressalta que a revisão das normas deve ser feita de forma segmentada. “Há setores como o nosso que realmente são muito competitivos. Tanto é que praticamente 80% da nossa produção até o final do ano será voltada para a exportação. Então essa discussão tem que ser segmentada, para identificar exatamente onde estão os gargalos do setor”, diz.

Em que passo estão os investimentos da Tenaris no Brasil atualmente e quais as perspectivas daqui para frente?

A Tenaris vem investindo bastante no Brasil e desde 2012 já aplicou cerca de US$ 350 milhões no País. Dentre os investimentos, houve a troca de dois equipamentos na nossa planta de Pindamonhangaba, a prensa O e a prensa U, que são equipamentos alemães. Com isso, aumentamos a capacidade de produzir tubos com maiores espessuras para atendimento ao pré-sal.

Outro investimento importante foram US$ 40 milhões aplicados no centro de pesquisas, inaugurado em abril de 2014, no Rio de Janeiro. Ele vem operando com uma boa carga.

Como estão os projetos no centro de pesquisas?

Esse é o quinto centro de pesquisas da Tenaris no mundo. Temos unidades na Argentina, no México, na Itália e no Japão, além do brasileiro.

Nós trabalhamos com qualificação de produtos e desenvolvimento de conexões premium. Ele está focado em testes de escala real, onde temos o maior equipamento do mundo instalado para esse tipo de testes para tubulações e conexões. É voltado a poços de perfuração, mas temos também uma linha de soldagem, para distintos materiais.

Tem algum projeto voltado especificamente ao pré-sal?

Temos produtos qualificados e desenvolvimentos em utilização no pré-sal. Um dos principais produtos que foi testado é o nosso conector BlueDock, que já está sendo instalado no próprio campo de Libra. É um dos nossos destaques aqui na Rio Oil&Gas.

Pode detalhá-lo?

É um conector que a gente fornece de 18 até 38 polegadas de diâmetro e faz parte das primeiras partes de um poço de perfuração, que são os condutores e os revestimentos de superfície, que levam essas conexões de grande diâmetro. Então acima de 18 polegadas é um produto que promove selabilidade, tem resistência à tração, à fadiga, à compressão, então esse teste de escala real é justamente para garantir a performance desse conector no poço.

O que ele agregou em relação aos conectores de grande diâmetro anteriores no mercado?

É um novo desenvolvimento, de um produto que a Tenaris não produzia. Começamos a produzir a partir do Brasil. É a única planta da empresa que produz esse conector e inclusive exportamos. Atendemos não só o mercado local, mas também o internacional.

Para onde?

Para o mundo todo. Onde há operação, principalmente em águas profundas, nós temos condição de atender. Já estamos exportando, com alguns contratos em andamento, como com a Conoco e com a Total. Foi desenvolvido aqui e a produção continua sendo feita aqui.

A política de conteúdo local foi um fator decisivo para esses investimentos e para o desenvolvimento desse produto no Brasil?

Sem dúvida. Os investimentos foram para atender também à política de conteúdo local. E estamos produzindo de forma competitiva no mercado internacional e poderemos contribuir com as operadoras também a partir do Pedefor [Programa de Estímulo à Competitividade da Cadeia Produtiva, ao Desenvolvimento e ao Aprimoramento de Fornecedores do Setor de Petróleo e Gás Natural, criado pelo governo brasileiro em janeiro deste ano], já que as compras realizadas no Brasil passarão a gerar créditos de conteúdo local para as operadoras.

Em cima deste tema, como vê as mudanças que vêm sendo defendidas pelas operadoras e agora encampadas pelo governo. A maior bandeira delas é justamente a alegação de falta de competitividade aqui, mas vocês estão demonstrando o contrário, inclusive já exportando. Então como vê as mudanças propostas, o que acha que deve ser mantido e o que precisa ser ajustado?

A empresa de petróleo é uma empresa muito grande e ampla. Então isso tem que ser analisado setor por setor. Há setores como o nosso que realmente são muito competitivos. Tanto é que praticamente 80% da nossa produção até o final do ano será voltada para a exportação. Então essa discussão tem que ser segmentada, para identificar exatamente onde estão os gargalos do setor. Para que a política seja adaptada e adequada, de forma a desenvolver a indústria local, que realmente gera empregos e divisas para o país, e é uma indústria que tem mão de obra intensiva. Então essa revisão é importante, mas de forma adequada à eliminar os gargalos.

Como a Tenaris conseguiu alcançar esse patamar de competitividade e quais foram os maiores desafios para chegar neste ponto?

A Tenaris como um todo é uma empresa que tem uma disciplina muito grande de custos, além de investirmos muito em desenvolvimento não só de pessoas, como também de produtos. Um dos nossos carros-chefe é o Rig Direct, que é um investimento que vem somar ao desenvolvimento dos nossos produtos e atende e complementa toda cadeia de serviços e supply chain dos nossos clientes. Então, essa diferenciação, com disciplina financeira, investimentos em pessoas, produtos e agora com esse novo conceito, o Rig Direct, com que conseguimos encurtar a cadeia de suprimentos para os clientes, é um diferencial muito importante, que tem nos garantido sucesso internacional, principalmente nos Estados Unidos, onde a Tenaris tem muitos clientes.

E quais foram os maiores desafios para esse avanço? Porque é importante nesse processo de revisão pontar o que está dificultando o caminho das empresas rumo à competitividade…

Acho que o governo está sensibilizado às necessidades da indústria de petróleo, que é muito ampla e envolve diversos segmentos. Então o governo, em função das discussões que estão ocorrendo, está sensibilizado e trabalhando no sentido de adequar esses pontos de incongruência que existem na política hoje à necessidade da indústria, no sentido de gerar emprego e arrecadação no curto prazo. Então há necessidade de a política ser reanalisada e revista de forma a eliminar possíveis gargalos, sejam eles quais forem, como algumas inconsistências existentes no Repetro. Toda indústria está de acordo que o Repetro deve ser renovado, mas ele precisa ser estendido de forma isonômica para todos os setores da cadeia, por exemplo.

Sobre o conceito de Rig Direct, que mencionou, poderia detalhá-lo melhor?

O Rig Direct é mais do que uma marca; é um conceito que a Tenaris desenvolveu, em que conseguimos encurtar a cadeia de supply chain de toda operadora. Ele é baseado em três pilares. Numa parte fazemos toda a entrega do material de forma otimizada e o material excedente retorna para nós. Então todo o dinheiro aplicado e o controle de estoque é menor. Além disso, materiais que retornam das operações podem ser reparados e reutilizados.

O segundo pilar é a equipe técnica da Tenaris, que promove junto aos operadores o desenho otimizado da coluna de revestimento, fazendo o desenho de cada poço utilizando materiais e conexões com o menor custo possível.

E o terceiro pilar são justamente os especialistas em serviços de campo, que embarcam nas plataformas, dando todo o suporte técnico à instalação dos nossos produtos, reduzindo o tempo de trabalho.

Isso já foi implementando na prática?

Já, principalmente com operadores nos Estados Unidos. Com a queda nos preços do barril, houve a necessidade dessa redução de custos e otimização, principalmente para atender à indústria de shale gas no mercado americano.

Fonte: Petronotícias