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Presidente do Santander vê retomada da economia e até falta de produtos no Natal


A economia brasileira passou por um ponto de inflexão e tende a entrar em um novo ambiente, de crescimento e maior confiança nos próximos meses e que deve se acentuar no ano que vem que pode surpreender e ter um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do 1,5% a 2% previstos pelo mercado, afirma o presidente do Santander Brasil, Sergio Rial.

Segundo ele, o consumo tende a crescer e há o risco de faltarem produtos no Natal diante da retração das empresas em fazer estoques. “O consumo pode reagir e corremos o risco de termos um Natal com falta de produtos, pois as empresas estão despreparadas”, diz. “Mas vamos ter um Natal melhor que o de 2015”, diz.

Bancos devem repassar queda nos juros

Para o executivo, os pontos mais importantes para essa retomada são a queda da inflação, que permitirá uma redução maior dos juros locais, e um ambiente externo mais tranquilo, além de uma estabilidade maior no câmbio brasileiro. Ele acredita que a queda dos juros pelo Banco Central (BC) neste mês, de 14,25% par 14% ao ano, terá impacto nas taxas ao consumidor. “Os bancos estão com suas carteiras de crédito reduzidas e vão ter interesse em repassar essa redução para as taxas para ampliar os empréstimos”, diz.

Crédito melhora e mercado de capitais ajuda

Para Rial os sinais de recuperação da economia aparecem nas carteiras de crédito da instituição, que pararam de cair e se estabilizaram do segundo para o terceiro trimestre deste ano. “É um sinal positivo”, afirma. Além disso, houve uma reabertura do mercado de capitais que costuma começar no segundo trimestre, mas que está retomando no terceiro, com movimentações na parte de ações e compras de empresas em um cenário de queda dos juros. A alta das bolsas e dos preços das ações também deve ajudar a incentivar as empresas a captarem recursos no mercado. “Preços já temos para as empresas irem a mercado lançar ações”, diz.

Estoques devem puxar retomada

Outro sinal de recuperação é fato de os estoques das empresas estarem muito baixos, o que vai exigir uma recomposição e novas encomendas às fábricas. “Chegamos a um nível de estoques que não tem mais como cair”, diz. “Por isso, estamos convencidos de que o fundo do poço foi tocado e agora entramos em um processo de reversão com retomada da economia, talvez em níveis maiores que o 1,5% a 2% que o mercado trabalha para o ano que vem”, diz.

O movimento do Banco Central de reduzir a taxa básica Selic também reforça essa tendência, diz Rial, mostrando que a inflação está em queda. ‘E é importante notar que isso tudo acontece em um cenário em que a sociedade brasileira amadurece, discute seu futuro”, diz, referindo-se às reformas estruturais propostas pelo governo.

Empresas sairão melhor da crise

Sobre as empresas, Rial diz que elas devem sair desse processo em melhor situação do que no início da crise. “A retomada não vai ser em ‘V’, mas temo mudanças estruturais importantes”, afirma. Entre elas o fato de a expectativa de aumentos reais de salários deixarem de existir. “Vivemos um período de aumentos inconsistentes de salário, incompatíveis com a produtividade da economia”, explica. “O país aprendeu que precisa de uma agenda de produtividade”, afirma.

Ele destaca também que o setor de petróleo e gás, fortemente atingido pela crise e pela turbulência da Operação Lava Jato, já está muito melhor este ano, bem como o de açúcar e álcool. O setor de consumo também deve reagir com a queda dos juros. Ele espera também que o desemprego pare de cair e volte a subir no começo do ano que vem. “E as empresas não estão investindo e qualquer inflexão no consumo pode provocar falta de produtos”, diz.

Setor imobiliário

O setor imobiliário também deve ser beneficiado pela queda dos juros, e tende a se recuperar. “As empresas aprenderam várias lições na crise”, afirma, citando alguns erros cometidos pelas companhias imobiliárias nos últimos anos. “Não existe escala nacional, terceirizar obras leva a estouro de orçamento e atrasos, existe limite para lançamentos de projetos e a concorrência regional não desaparece”, referindo-se às tentativas de algumas empresas de expandirem suas operações para outras regiões onde não tinham experiência, usando empresas terceirizadas, ou o excesso de lançamentos ocorrida nos últimos dez cinco anos.

Além do aprendizado, as empresas de construção estão mais preparadas em termos industriais, “podem produzir mais depressa e com menor custo”, afirma Rial. Ele espera também que os novos prefeitos, que assumirão no ano que vem, busquem facilitar as licenças para construções para atrair recursos para seus municípios.

Fonte: ADVFN