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O PÓS-CARNAVAL e a expectativa do mercado


Avanço no índice de desemprego, taxas de juros elevadas e um ambiente político ainda conturbado

A crise brasileira de natureza financeira, social e ambiental ganha contornos dramáticos, embora alguns fanáticos ainda acreditem em mercados eficientes e expectativas racionais. Segundo o IBGE, quase 12 milhões de trabalhadores estão atualmente fora do mercado de trabalho. O avanço rápido do desemprego é um reflexo da recessão econômica e da deterioração das expectativas empresariais, em particular na indústria. Para 2017 espera-se mais do mesmo, com sofrimento e agonia para a maioria da população.

Estranhamento, para alguns economistas, o aumento do desemprego é um fenômeno positivo, pois reduz as pressões salariais, ajudando a conter a inflação. Entretanto, os movimentos que reduziram o nível dos salários reais, apenas contribuíram para a fragilização da situação relacionada ao nível do consumo das famílias e perda de receita fiscal da União, estados e municípios fragilizados.

Fundamental é identificar quem ganha e quem perde, tanto nos tempos de prosperidade, quanto na fase aguda da crise como presenciamos agora. Os juros altos que custam muito caro para as contas públicas engordam a remuneração do setor financeiro. Mas, ao mesmo tempo, representam risco de crise bancária face ao lucro cadente em vários setores estratégicos da economia nacional. A SELIC precisa cair forte e rápido.

A reversão do ciclo de queda no emprego e na renda depende, por sua vez, da retomada do crescimento econômico, que só virá quando o país encontrar alguma fonte de demanda autônoma que puxe o crescimento dos mais variados setores. Será necessário para o governo organizar novas frentes de investimento, em particular em infraestrutura ou energia renovável, que congreguem vários setores produtivos nacionais, para encontrar uma fonte de demanda que faça com que os empresários privados se sintam seguros e animados para assumir riscos e, com isso, superar a crise.

Contudo, só uma nova correlação de forças políticas pode mudar esse quadro crítico marcado pelo privilégio no acesso a renda e à qualidade de vida para poucos. Até lá vamos navegar nessas águas turvas do impasse que nos leva ao brejo da estagnação.

Fonte: Ranulfo Vidigal - economista, consultor e doutorando pela Universidade Federal do Rio de Janeiro