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China será maior investidor em projetos desenvolvidos no Brasil


Entre 2003 e 2017, asiáticos anunciaram 235 projetos no país, diz estudo do governo

Um estudo da Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, ao qual O Globo teve acesso, mostra que a China caminha a passos largos para ser o maior investidor em projetos desenvolvidos no Brasil. Segundo a pesquisa, entre 2003 e 2017, foram contabilizados 235 projetos de investimentos diretos anunciados pela China no Brasil, em um total de US$ 103,6 bilhões.

Do total, 87 foram confirmados, com valor acumulado de US$ 46,8 bilhões. Há, portanto, 148 outros projetos de investimento anunciados que deverão se confirmar. As áreas são diversificadas e passam por energia, petróleo e gás, manufaturas e alimentos, entre outras.

De acordo com o secretário de Assuntos Internacionais da pasta, Jorge Arbache, não são apenas grandes estatais chinesas que estão em frenética busca por oportunidades de negócios no exterior. Firmas pertencentes a governos provinciais, companhias de capital privado e até pessoas físicas de alta renda também contribuem para o aumento da participação do gigante asiático nos investimentos internacionais.

Ele destacou ainda que grande parte dessa “farra” de investimento estrangeiro direto (IED) chinês é de fusões e aquisições, e não de projetos novos de inversão nos países hospedeiros — os chamados greenfields. Isso tem levado governos de vários países, como EUA e Alemanha, a restringirem a entrada de dinheiro chinês.

Na América Latina, a onda de IED chinês é relativamente recente. No caso do Brasil, os ingressos de capi tais daquele país só se tornaram significativos após 2004. "Está havendo uma mudança de perfil dos maiores investidores no Brasil. A China já pode ter ultrapassado os europeus e os americanos, por exemplo", disse Arbache.

O secretário afirmou que os dados coletados no levantamento são mais completos do que os do Banco Central, que não contabilizam os recursos de paraísos fiscais, como Ilhas Cayman e Luxemburgo. "Os chineses entram por outros caminhos, inclusive por terceiras companhias. Há uma subestimação de dados, e os da China devem ser ainda maiores", disse ele.

Uma das ferramentas que poderão facilitar o ingresso de investimentos chineses em projetos brasileiros é o Fundo Brasil-China, criado em maio deste ano e que conta com US$ 20 bilhões. Pequim é responsável por três quartos desse montante.

"Apesar de entrar com a maior parte do dinheiro, ao contrário do que faz em outros fundos que mantém, a China não nos exige contrapartidas, como a compra de equipamentos e o uso de mão de obra daquele país", ressaltou Arbache.

Em 2016, país recebeu mais de US$ 10 bi
Uma das conclusões do estudo é que as relações econômicas entre o Brasil e a China têm avançado bastante nos últimos anos. Porém, ainda há um enorme potencial a explorar por ambas as partes. “A importância estratégica do Brasil para a China precisa sair do discurso e assumir uma dimensão de melhor qualidade na práxis”, recomendam os técnicos.

A avaliação é que, em geral, os tomadores de decisão no governo chinês ainda não despertaram para o real peso econômico do Brasil. Parecem considerar que o país se satisfaz em exportar simplesmente commodities para a China e receber crescente ingresso de investimentos em setores de insumos básicos e por meio de aquisições de empresas, com muito pouco canalizado na forma de projetos novos.

Os EUA foram o destino de 30% do IED chinês no ano passado. Outros três países — Reino Unido, Brasil e Alemanha — superaram US$ 10 bilhões cada um. Esse crescimento exponencial do IED chinês no mundo não preocupa só seus competidores. O próprio governo da China está seriamente preocupado com a rapidez e os volumes de saída de capital, tendo inclusive já tomado algumas medidas para conter essa nova onda.

Por outro lado, há importantes investimentos brasileiros na China, em setores como aeronáutico (Embraer), mineração (Vale), petróleo (Petrobras) e alimentos (BRF, Marfrig).

Fonte: Época Negócios