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Herick Marques Caminha

O Apagăo das Certificaçơes ISO 9000

Por: Herick Marques Caminha -

Parece que o costume brasileiro de deixar tudo para a última hora ganhou o mundo. No tocante a outros ramos de atividade não dispomos de informações precisas, mas quanto às certificações ISO 9000 certamente sim. Para comprovar esta afirmação, examinemos o quadro atual das certificações no Brasil e no mundo.

O conjunto de normas ISO série 9000, sobre Sistemas da Qualidade, foi emitida originalmente em 1987, tendo sido atualizada em 1994 visando tornar mais claro seu texto e eliminar algumas imprecisões. Posteriormente, a série passou por um amplo processo em nível mundial de discussão e revisão do qual o Brasil participou ativamente, tendo sido oficialmente representado pelo CB-25 da ABNT (Comitê Brasileiro da Qualidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas). Tal processo culminou com a homologação em 15 de dezembro de 2000 da nova versão das normas ISO 9000, 9001 e 9004.

É importante saber que a ISO, enquanto organização não governamental, somente elabora e emite normas técnicas, sem participar de forma alguma de qualquer esquema de certificação. Tais esquemas são regulados e fiscalizados, na maior parte dos países do mundo, por organizações nacionais governamentais ditas credenciadoras. No Brasil, esse órgão é o INMETRO, vinculado ao Ministério da Indústria e Comércio.

Os organismos credenciadores se reúnem regularmente no IAF - International Accreditation Forum - com o objetivo de debater, criar e homogeneizar as regras para a certificação de Sistemas de Gestão, que são nacionais. Um resultado do trabalho do IAF é que hoje em dia os regulamentos são muito semelhantes, independente da nacionalidade do esquema de certificação. Evidentemente, existem particularidades de pequena monta que variam de país para país; a essência, entretanto, os pontos mais importantes das regras permanecem os mesmos.

Em 10 de novembro de 2000, através de seu comunicado IAF14 (após a 14ª Reunião Anual), o IAF definiu o prazo de três anos após a publicação da revisão da ISO 9001 para que todas as empresas certificadas fizessem a transição para a nova versão. Esta determinação foi ratificada por meio do documento "Transition Planning Guidance", emitido em março de 2001 pelo TC 176 da ISO (Comitê Técnico responsável pela normalização de Sistemas da Qualidade), definindo então a data fatal de 15 de dezembro de 2003 para que todas as certificações estivessem atualizadas. Este documento esclareceu dois aspectos importantes: as empresas já certificadas poderiam manter por três anos seus certificados ISO 9000:1994, e ficava facultado aos órgãos certificadores emitirem novos certificados ainda pela versão antiga durante o mesmo período. Segundo tais regras, uma empresa pode se certificar ISO 9001:1994 em 14 de dezembro de 2003, só que o certificado caducará no dia seguinte.

Esclarecidos esses pontos, vamos agora aos números.

Segundo o documento "The ISO Survey of ISO 9000 and ISO 14000 Certificates - Eleventh Cicle", elaborado pela ISO, até 31 de dezembro de 2001 existiam no mundo 510.616 certificados ISO 9000 emitidos, dos quais 44.388, ou seja, 8,7% do total, eram pela revisão 2000. Não se encontram disponíveis informações concretas mais recentes em nível mundial, mas estimativas de organismos credenciadores e certificadores avaliam que até o momento cerca de 20% das empresas fizeram a transição (ou se certificaram) pela nova versão da norma. Falando de Brasil, dados do CB-25 datados de 9 de janeiro último mostram que dos 6.034 certificados emitidos no país, 1.058, ou seja, 17,5% do total, são pela nova versão. Em outras palavras, existe até o final de 2003 no Brasil uma demanda por cerca de 5.000 auditorias de atualização para a ISO 9001:2000, isto sem contar as certificações novas, que nos últimos quatro anos situaram-se na ordem de 1.000 por ano.

Ilustre leitor, a verdade é uma só: não há auditores suficientes nos órgãos certificadores estabelecidos em nosso país que dêem conta de tal demanda, configurado-se, dessa forma, o apagão das certificações. Em outras palavras, muitas empresas certificadas pela ISO 9000:1994 irão perder seus certificados, e muitas outras que planejam se certificar pela primeira vez este ano não o conseguirão, por absoluta falta de agenda dos órgãos certificadores. E, pior ainda, não existem alternativas possíveis. A "importação" de auditores ou de organismos certificadores é inviável, uma vez que o problema no exterior é similar ao nosso, ou seja, lá também haverá indisponibilidade de auditores qualificados e de agenda. Outra possibilidade, a formação de novos auditores no país, existe e continuará existindo, só que possui duas grandes limitações quantitativas: por um lado, os pré-requisitos exigidos de um profissional para que ele se qualifique como auditor de uma certificadora são rigorosos, o que restringe a seleção a um grupo pequeno de candidatos potenciais; de outro lado, o tempo necessário ao treinamento de um candidato até que ele se qualifique é normalmente longo, durando cerca de três meses ou mais. Assim, a qualificação de novos auditores não será suficiente para suprir a demanda existente. Tudo isso concorre para que se desemboque, ao longo de 2003, num beco sem saída quanto à manutenção das certificações ISO 9000 ou à obtenção de novos certificados.

Para encerrar, deixamos nossa sugestão para as empresas que precisam fazer a transição ou que planejam se certificar pela primeira vez este ano: marquem sem demora a auditoria com seu organismo certificador!