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Manoel Alves

Conto Japonês (ou Zen Capitalismo)

Por: Manoel Alves -

Certa  manhã de outono, (sempre é outono no Japão) o mestre Yamaha passeava pela planície de Kawazaki. Ao fundo, as montanhas Suzuki erguiam-se imponentes. Ao parar às  margens do rio Mitsubishi, percebeu que estava sendo seguido. Voltou-se com a leveza dos mestres do templo de Panasonic encarando seu oponente, um estrangeiro forte e robusto o olhava com expressão ameaçadora. Era Davidson, Harley Davidson, seu eterno rival com o qual já havia travado inúmeras batalhas.

Mas desta vez, não viera só. Ao seu lado estavam os também ameaçadores Chrysler e Ford.
Em segundos o grupo ruidoso desferiu um ataque feroz sobre o velho mestre, que girando com habilidade, desviava de seus golpes.

A crueza da luta logo atraiu a atenção da imprensa, que usando câmeras JVC e Sony transmitiam para o mundo imagens em HDTV; Todos os canais por assinatura (inclusive a Sky) mandaram equipes. Até os sons dos metais em atrito foi gravado para a posteridade,  sendo disponibilizado em MD, CD, K7 e em formato mp3 para a internet.

Em pouco tempo, todo o mundo estava ligado na batalha. Crianças na Namíbia assistiam na TV, enquanto senhoras Portorriquenhas acessavam o site que transmitia online a contenda. Chats e canais de discussão foram abertos para abordar o assunto do século.

A ABC, temendo a NBC e a CNN, aliou-se à BBC tentando obter os direitos exclusivos da transmissão. Teve então início outra batalha, pois a Twenty Century Fox, já havia contratado 15 biógrafos, na esperança de comprar os direitos da luta, se associara à Warner, para lançar o filme baseado na história real da que parecia ser a maior luta da humanidade.

Enquanto isso, o Master Card ergueu muralhas em volta do local da luta, cobrando ingressos dos turistas que vinham de todos os cantos do mundo (via American Air-Lines e PAN AM, claro) se acotovelavam nas arquibancadas. Galões de Diet Coke foram usados para aplacar a sede das pessoas, que tão interessadas na batalha, ingeriam toneladas de Big Macs.

A essa altura, os relógios Tag Heuer marcavam vários dias de batalha, e os enormes alto-falantes Pioneer anunciavam outro round no oferecimento da Nike.
De repente um silêncio colossal chama a atenção dos lutadores. Ninguém mais estava em volta assistindo o evento.

Só se ouvia o vento que soprando leve, arrastava pelas arquibancadas embalagens aluminizadas de Chips. Olharam em volta. Nem mesmo o dirigível da Goodyear ou os outdoors da Hugo Boss estavam mais lá. Decepcionados com a humanidade que os abandonara, caminharam em direção ao pôr-do-sol.

Poucos passos depois, chegava um e-mail nos seus celulares Nokia: Todos tinham ido assistir ao lançamento do Parque dos Dinossauros XVII- o regresso, do Spielberg.

Moral da história:
“Mais valem pontos no IBOPE do que pontos na cara”