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Petroleiras voltam a abrir a carteira para investir


As empresas de petróleo e gás começam a mostrar os primeiros sinais de volta do interesse por investimentos depois de quase três anos de redução, embora sua prioridade continue sendo os dividendos e o encolhimento das dívidas, segundo líderes do setor.

Cerca de 70% dos executivos e consultores que trabalham na produção e exploração preveem aumento neste ano dos gastos em bens de capital e em fusões e aquisições, o que marca uma reversão de rumo em comparação aos profundos cortes vistos desde que as cotações desabaram em 2014.

Ainda assim, a maioria dos consultados na pesquisa da firma de consultoria especializada no setor de petróleo e gás Woo Mackenzie, projeta que o aumento nos investimentos em exploração não será de mais de 10% em relação aos patamares dos últimos dois anos, os mais baixos da história.

De acordo com a pesquisa, 60% dos consultados pensam que a prioridade da indústria de petróleo e gás neste ano vai ser proteger os dividendos ou pagar dívidas e apenas 39% acham que vai ser o investimento em exploração, em fusões e aquisições ou no desenvolvimento de novos projetos.

"Otimismo cauteloso é o lema", disse Martin Kelly, chefe de análise empresarial na Wood Mackenzie. "Começamos a ver sinais iniciais de uma volta dos investimentos, mas as empresas ainda estão pensando em primeiro lugar em assegurar que seus balanços patrimoniais estejam em ordem."

Os resultados da pesquisa confirmam a sensação passada pelos maiores grupos de petróleo e gás do mundo nas últimas semanas quando anunciaram seus balanços relativos ao primeiro trimestre. A recuperação parcial nos preços do petróleo, combinada a grandes cortes de custos, ajudou a indústria petrolífera a voltar aos lucros. "Megapetrolíferas" como ExxonMobil, Chevron e Royal Dutch Shell, no entanto, deixaram claro que os gastos em bens de capital vão continuar sob rédea curta.

A recente pausa na recuperação das cotações, com o preço do barril do petróleo Brent voltando a recuar para a faixa dos US$ 50, reacendeu o nervosismo no mercado, uma vez que os grandes países produtores, liderados pelo cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), enfrentam dificuldade para impedir que a oferta mundial aumente, especialmente diante da retomada da produção da indústria de xisto petrolífero nos Estados Unidos.

A Wood Mackenzie recebeu respostas de 170 executivos e consultores que trabalham na área de exploração e produção pelo mundo, incluindo desde empresas menores até grandes grupos internacionais. Vários dos pesquisados trabalham em funções operacionais, o que lhes dá uma visão direta da atividade do setor.

Em outro sinal de como a cautela ainda impera, apenas 12% dos consultados acreditam que a melhor opção de crescimento de longo prazo para suas empresas seja buscar recursos em locais ainda inexplorados nos territórios de "fronteira", como são chamados os mercados que ainda não são tão grandes quanto os países emergentes e que são considerados o tipo de investimento de maior risco. Os demais apontam como melhor opção investir em fusões e aquisições, no desenvolvimento de reservas comprovadas ou na exploração de áreas próximas à infraestrutura dos campos existentes.

"A parte onde as empresas estão pensando em termos de crescimento é na ponta da curva de menor custo e risco", disse Kelly.

Os resultados são similares ao de uma pesquisa anual sobre as atividades de exploração do setor realizada por outra firma de consultoria do setor, a Westwood Global Energy Group, com 40 empresas de exploração e produção.

A pesquisa indicou que as descobertas de petróleo e gás em 2016 foram as menores em nove anos e que a atividade de exploração continuou em declínio no primeiro trimestre deste ano. Os planos das empresas para o restante de 2017, contudo, sinalizam crescimento de 10% no número de poços perfurados ao longo do ano em comparação a 2016.

"A indústria saiu da sala de emergência, mas ainda não saiu do hospital", disse Keith Meyers, presidente da Westwood Research, acrescentando que a diminuição dos investimentos criou oportunidades para empresas dispostas a ousar.

Fonte: Valor