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Jader Christo

Monopólio uruguaio

Por: Jader Christo -

Recentemente um barco pesqueiro brasileiro foi interceptado pela marinha uruguaia e teve sua carga confiscada. Um pequeno incidente sem maiores conseqüências diplomáticas, até porque os nossos vizinhos doaram os peixes a instituições de caridade numa demonstração de que o real interesse era manter a soberania (o Uruguai é um grande consumidor de carne bovina).

Nós aqui ficamos imaginando, caso fosse realmente lucrativo, como seria possível ganhar dinheiro com os peixes colhidos em águas uruguaias?

Seria um processo longo, estrategicamente traçado, e que poderia fazer com que recebêssemos somente os dividendos, sem ficar com as mãos cheirando a peixe.

Começaríamos aproveitando esse incidente fazendo uma campanha nacionalista local, incitando a população a defender com unhas e dentes o direito sobre os peixes uruguaios. Sugiro um slogan "O peixe é nosso".

Em meio a essa febre nacionalista criaríamos a PEIXEGUAI uma estatal que monopolizaria a caça, captura e beneficiamento dos peixes no território nacional (deles).
  
Aqui do Brasil faríamos uma campanha contrária (mas nada convincente) dizendo que não há peixes de qualidade que justifiquem essa ridícula reserva de mercado peixeiro, e em paralelo ofereceríamos nossa meio-milenar cultura para auxiliar nossos vizinhos, afinal de contas eles não têm capacidade para fabricar anzóis, traineiras e apetrechos.

E a PEIXEGUAI iniciaria sua epopéia vitoriosa.
Uma estrutura colossal para administrar a reserva pesqueira
E vamos ao mar...
Em meio a euforia alguém questionaria: e os pescadores?
Fácil, contrate-os na beira do cais.
E os anzóis?

Nesse momento, chegamos nós, brasileiros, experientes fabricantes de anzóis.

Algumas regras deveriam ser criadas para que tudo funcionasse corretamente:

1- Para que qualquer embarcação uruguaia fosse legalizada seria necessária a certificação ABS (Associação Brasileira de Seriedade), que sem a qual nada seria lícito (nem operações, nem seguros).

2- Qualquer uruguaio que quisesse construir ou reparar embarcações teria que ser sob a nossa tutela. (Se alguém se atrevesse a mudar, usaríamos a ABS).

3- Construiríamos, no Uruguai, unidades de beneficiamento pesqueiro especializadas em processar Tucunarés. Como os uruguaios provavelmente não conseguiriam capturar Tucunarés no mar, as empresas brasileiras especializadas em frutos do mar, teriam o máximo prazer em auxiliar.

4- Criaríamos um grande centro de pesquisa Uruguaio para desenvolver tecnologia do setor, mas castraríamos qualquer iniciativa privada local. Assim cada pequeno pescador que se atrevesse a fabricar um anzol, nós o atiraríamos solenemente ao ridículo.

5- E finalmente despejaríamos toneladas de quinquilharias culturais, com cursos que fizessem cada uruguaio acreditar que poderia ser mais um Bill Gates. Talvez uma sigla Movimento Brasileiro de Alienação.

Assim a PEIXEGUAI prosperaria, e em alguns anos o Uruguai seria auto suficiente na produção de peixes. Caso os cardumes não se esgotassem.

Alguns felizardos Uruguaios teriam um breve era de muito conforto, e como Capitães do Mato, virariam as costas paras as senzalas circunvizinhas de seus compatriotas para viver em deslumbrantes e efêmeras Casas Grandes enquanto nós, brasileiros, venderíamos bijuterias eletrônicas, cursos de pós-graduação, carros de passeios blindados e a doce ilusão de que eles seriam aceitos em nosso meio desenvolvido (até não haver mais peixes, é claro).

A PEIXEGUAI faria movimentos de preservação de espécies salvando heroicamente os micos e tartarugas que vivem em torno das imensas favelas que cresceriam sem parar. Falando em favelas, poderiam patrocinar favelados para dançarem clássicos (favelados uruguaios adoram  Mozer, Bach e Chopin).  E patrocinaríamos a camisa do Peñarol.

E quando os peixes acabassem, nós nos retiraríamos do cenário, deixando os uruguaios com uma saudade imensa dos brasileiros e com aquela insistente impressão de que são incapazes de manter o progresso depois que os brasileiros se retiram.

E o grande público uruguaio seguiria, na beira da praia perguntando: O peixe é nosso? ...Nós quem, cara pálida?