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Jader Christo

Macaé, um novo Canadá

Por: Jader Christo -

Há de se visualizar uma cidade onde não existirão grotescos “artistas“ pedintes nos sinais de transito, porque todos os habitantes estarão dentro dos carros nesta hora.
Há de se desejar o dia em que todos, e não somente os servidores do petróleo, terão salários que lhe garantam saciar suas necessidades básicas.
Utopia? Talvez. Mas qual seria o sonho coletivo de uma cidade que vive, e viverá por muito tempo uma situação de aporte de recursos desta grandeza? E que, sendo assim, tem o dever de aplicá-los em função do desenvolvimento humano.
Hoje o panorama é o modelo já desgastado de uma ilha da fantasia cercada por uma multidão de falsos incluídos.
Será que a velha história “casa grande e senzala” se repetirá?
Somos uma cidade de oportunidades, onde o profissional habilitado tem espaço sobrando e o não habilitado pode ter sua vez, e também o empresário tem amplo campo para prestar serviços ou oferecer seus produtos.
Mas já é um discurso insistente e banalizado que somos há preocupação constante em saber que o petróleo é finito e em conseqüência, também são finitas as condições de desenvolvimento atuais.
Uma corrida obstinada por alternativas de atividades que possam sobreviver à indústria do Petróleo que tem recebido muitas críticas, tal qual a epidemia ecológica para conter a emissão de gases na atmosfera.
Alguns clamam pela atração de investimentos em indústrias de bens de consumo que não se relacionem diretamente com a indústria do petróleo e neste caso sobreviveriam ao ultimo barril extraído na região.
Mas, para isto, temos convencer o empresário de que Macaé é um bom lugar para seu investimento. Uma tarefa árdua, além de enfrentarmos a grande concorrência dos municípios fronteiriços.
Temos disponibilizado incentivos governamentais e projetos de condomínios empresariais que quando concretizados resultarão em uma notável concentração de tecnologia, produção e geração de riquezas, e gradativamente vão surtindo efeito.
Mas, um dos fatores que sempre são considerados para a implantação de uma unidade de produção é mão de obra barata e/ou qualificada, e esse é um complicador que a situação atual tem gerado, pois uma mão de obra não qualificada que exige salários e tratamento de primeiro mundo ou uma qualificação essencialmente voltada para a extração de petróleo são agentes desestimuladores dos demais segmentos.
A indústria do Petróleo torna Macaé uma “Serra Pelada” onde todos exibem próteses de ouro, pagam com ouro, mas são restritos aos limites do aventurismo dos garimpeiros.
Convencer um empresário a vir para Macaé realizar algo fora da indústria do petróleo tem sido tão difícil quanto teria sido convencer alguém a transferir sua empresa para “Serra Pelada” no auge da extração do ouro.
Altíssimo custo de vida, mercado consumidor restrito, explosão demográfica, uma verdadeira bomba-relógio social que só será desarmada com muita dedicação e vontade política, são fatores que desestimulam o empresariado não ligado à nossa atividade econômica principal.
Essa tarefa é uma batalha que só mesmo o planejamento, a competência e, acima de tudo, perseverança, poderão lograr êxito.
Outro grupo de planejadores relaciona o fato de Macaé ser produtor de óleo com o que seria uma vocação no setor de energético, e procuram inserir a cidade no seleto grupo mundial de geradores de processos alternativos de produção de energia. É uma ação oportuna, mas não é vocacional. Macaé extraí óleo, mas não produz energia, Macaé não tem vocação para isso e nem teria que ter.
O mundo convive com experimentos importantes na área de aperfeiçoamento da produção de energias renováveis e em meio às inúmeras iniciativas internacionais, este é o momento de aproveitarmos a concentração atual de recursos humanos e físicos para embarcar nessa corrente.
Projetos importantes como o biodiesel, estão sendo fomentados com sucesso, para acompanhar essa tendência contemporânea.
E, finalmente, uma outra vertente aposta na formação profissional, na qualificação e na evolução da cultura de um modo geral para que o habitante local possa ser competitivo e assim tornar-se mais participante do desenvolvimento em que vivemos.
E é por “esse trilho que passa o trem” pois no caminho do desenvolvimento sempre estará a educação.
É óbvio que há de se preparar profissionais para a indústria do petróleo, afinal de contas nem sabemos se ele vai acabar mesmo, como não sabemos se a calota polar vai derreter realmente. E mesmo que venha a se exaurir, ainda temos bastante “ouro” em nossa jazida antes de aposentarmos as picaretas.
Mas se tudo que for feito somente em razão do petróleo estaremos formando apenas mais uma prestação de serviço para vai sucumbir com o tempo. E desestimulando os empreendedores que no momento poderiam aportar aqui com outras atividades.

O grande legado da riqueza tem que ser a educação para construirmos cidadãos mais esclarecidos, mais conscientes da sua participação social e com condições de escolher seu destino.
Oferecer cada vez mais educação básica de qualidade e formação profissional diversificada.
Deixar de ir ao Mar do Norte, Angola, etc para ver indústrias de extração de petróleo, pois já existe quem faça isso por força da competição do setor.
Passemos a ir ao Canadá, a Suíça, etc, para vermos e nos modelarmos com a elite da cidadania, a elite da formação humana e objetivar ser muito mais que uma Arábia Saudita com pessoas cevadas por uma cesta básica nacional ao lado de um poço de petróleo e um palácio de ouro.
Porque estes só herdarão uma sociedade implodida pela escassez dos recursos que as sustentaram.
Lembremos que as sociedades desenvolvidas estão se “lixando” para recursos naturais, pois existem brasis, arábias e angolas para guardá-los e disponibilizá-los.
O maior de todos os recursos naturais é o ser humano honrado, cidadão e consciente. A grande riqueza é a qualidade de vida
Arrefecer os ensandecidos por “enebeeis” que elitizam e cada vez mais segregam com pouco retorno coletivo, e investir na inclusão básica para reduzir a dívida social a níveis gerenciáveis.
Ou seja, aquilo que vemos como resíduo social tem que ser na verdade o objetivo maior de toda a equação.
Trazer a periferia para o centro das atenções e colocar sua inclusão como meta principal, mas não como ação humanitária e sim como necessidade prioritária de sobrevivência de toda a sociedade.
Caso ao final de toda a “odisséia” do petróleo possamos andar tranqüilos pelas ruas a qualquer hora, possamos dormir com a porta destrancada e ter uma cultura de bem estar social como verdadeira riqueza. Então saberemos que usamos a “corrida” do petróleo de maneira sensata e produtiva.
Ao pararmos no sinal possamos usar o breve momento para relaxar do stress do transito, livres do assédio dos excluídos que naquele momento já estarão extintos pela ação da inclusão.
Ao invés de um novo Texas, um novo Canadá.
Dá pra sonhar, tempo e dinheiro nós temos.